Caminhando à beira-mar, talvez
conversando com este, buscava, numa atividade pueril um presente que lembrasse
aquele momento.
Praias e conchas têm tudo em
comum. Tanto que nas conchas fica guardado o som do mar. Sem elas, este ficaria
mudo.
No local onde estava, o dia
nascendo, o mar de um azul profundo, tingindo-se de ouro ao nascer do sol. A areia
intocada naquela manhã ficava por alguns segundos com a impressão de meus pés. Minha
alma, com uma lição gravada para sempre.
Não havia conchas na praia. Vez ou
outra, o mar mostrava uma, que era logo carregada pelas águas que retornavam. Neste
momento, deu-me um presente: contou-me um segredo.
O mar dá mostras de seus
presentes e os leva de volta com as ondas, assim como a vida nos mostra
pequenas (ou grandes) que vem e que vão.
Quem fica à beira-mar, como eu,
não pega grandes conchas. Encontra uma ou outra, pequenina. Se distrair os
olhos com a paisagem, parece que não há nenhuma. Mas as que encontrei são
lindas! E quanto mais me fixava, mais o mar ia presenteando.
Quando buscava uma concha que
avistava mais ao longe e corria para pegar, sempre uma onda a carregava e
escondia, como a dizer: “Esta não é para ti agora. Vigia e concentra, não
percebeste as que estão a teus pés.”
As pequenas felicidades (ou
grandes) que temos nesta vida são uma amostra do que um dia iremos viver. Assim
como o mar convida os caminheiros ao mergulho, a vida nos convida ao
aprofundamento.
Quem não busca a felicidade, ou
quem se distrai com as belezas efêmeras, dificilmente a encontra. Muitas vezes só
a reconhecemos quando, como o caminheiro distraído, ferimos nossos pés com uma
concha. Às vezes somente a dor nos faz perceber a felicidade.
Retornei com algumas conchas e
uma ânsia de profundidade. Não de mergulhos no mar, mas da sabedoria que nos faz
realmente aproveitar a vida, evoluindo. As conchas? Trouxe-as comigo, feliz com
cada uma das pequeninas.
Aprendi com o mar que, no fim,
não é o tamanho da concha que importa, é a busca. Mas se não valorizamos os
pequenos presentes que a vida nos dá, esta perde o sentido. Nascemos para ser
felizes e mergulhar. Se só somos felizes, ou se somente mergulhamos, estamos
vivendo pela metade.
Um comentário:
Muito bem. O texto “A VIDA E O MAR” me faz lembrar as minhas memórias de infância, que saudade... ao invés do mar, das ondas conversando com a areia e brincando com as conchas, meu cenário era no interior, onde cresci, lá ia todos os dias brincar na beira das sangas, que tinham em nossa propriedade e, minha principal alegria, era juntar as pedrinhas coloridas que a água presenteava na areia. Ainda as guardo, em uma caixa, até hoje. Entendi somente agora, professor Pedro, através desse texto, que a importância de ter ido todos os dias juntar minhas pedrinhas coloridas está em ter apreendido a dar valor a tudo o que Deus nos dá, pois são os pequenos detalhes que dão sentido à vida. Prof° Deivis Helfenstein de Menezes
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