Antônio gostava de apostar. Nada
de vício ou ilegalidade. Morador da “Fronteira”, volta e meia ia a um Cassino
no Uruguai para apostar na roleta. Não queria ficar rico. Apostava apenas
alguns trocados em vários números. Perdia mais do que ganhava, era feliz assim.
Eduardo, irmão de Antônio, tinha
uma pequena propriedade. Plantava um pouco de tudo, criava alguns animais...
não enriquecia, mas garantia o sustento da família e um certo conforto. Criticava
muito o irmão por seu pequeno vício de apostar.
Acontece que um dia um
economista passou em frente à propriedade de Eduardo. Quis o destino que um
pneu furado apresentasse os dois. E a solicitude de Eduardo rendeu um almoço ao
economista e um passeio pela propriedade.
Grato pela acolhida, o
economista deixa um conselho: o preço da soja subiria muito naquele ano.
Eduardo sorri, simples. Nunca pensara em enriquecer, mas o bichinho do lucro
começou a roer suas ideias.
Foi ao banco (só para ver como
é), falou com o gerente. Conseguiu um financiamento. Trouxe gente, vendeu os
bichos, arrancou o pomar, amassou as verduras e, duas semanas depois, uma
grande planície vermelha indicava o prenúncio de uma nova lavoura de soja.
A soja já esverdeava a
propriedade quando veio o temporal. Granizo grosso. Eduardo, olhos rasos d’água,
vê seu sonho de riqueza derreter-se com o gelo. A propriedade, gota a gota,
passando para o cofre do banco. Lembrou de Antônio e de sua aposta. Cometera o
erro do irmão, só que não foram somente trocados. Apostara todas as fichas e
perdera tudo.
Quantos de nós apostamos “todas
as fichas” em um único aspecto da vida – a profissão, o relacionamento, uma
amizade, um filho – e quando algo não acontece como esperávamos, nossa
felicidade desaparece completamente.
Infelizes? Ainda há tantas
coisas boas! Mas como tentamos sustentar toda nossa vida em apenas um pilar,
fracassamos.
Eduardo estava certo quando
cultivava um pouquinho de tudo. Faça o mesmo. Seremos um pouquinho felizes
todos os dias, por vários motivos.
A felicidade é um bem que não
admite apostas.
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