segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O que está por trás da morte de Eloá

Primeiro, o choque do seqüestro em Santo André. Depois a torcida para que tudo terminasse bem. Mais tarde, o desejo de que Lindemberg fosse morto a tiros. Depois a tragédia. A busca dos culpados. O despreparo da polícia. As acusações de pedofilia (se Eloá tinha quinze anos, e namorava há três, então esse namoro começou aos doze, enquanto ele teria dezenove anos). Os tratamentos psicológicos. As doações de órgãos. Tanta coisa para emocionar e indignar! Tantos fatos para repensar a vida, abraçar os filhos e não os deixar sair de casa (afinal, não se sabe quem será o próximo, dizem os mais radicais).

Pretendia escrever um grande texto sobre isso, mas algo lá no fundo do cérebro não pára de me incomodar. Um pensamento frio e calculista, que me questiona: o que está por trás disso? Quantas pessoas morrem baleadas por dia? Quantas no trânsito? Quantas são sacrificadas pela miséria, pela fome, pela falta de saneamento? Por quantas pessoas caídas na rua, bêbadas, doentes, pedintes, passamos antes de chegar em frente à nossa televisão para assistir, emocionados, a tragédia em rede nacional?

Por que, algumas vezes, os meios de comunicação pegam uma notícia do cotidiano e a transformam em uma novela que se arrasta por dias? Seria busca de Ibope? Seria para que não prestássemos atenção a outras pequenas notícias que são dadas todos os dias sem destaque? Enquanto choramos a morte de Eloá, quantas coisas deixamos de questionar?

Fiquei mais impressionado, nos últimos dias ao saber que nosso presidente tem garantido por lei o direito de, após deixar a presidência, ter ao seu dispor, em caráter vitalício, quatro seguranças particulares e dois carros oficiais custeados com dinheiro público. (Desculpem, não sei se a lei é nova ou se eu é que estava desinformado).

Acho que o “bichinho da paranóia” apoderou-se do meu ser, mas a partir de hoje, quando os noticiários repetirem uma mesma notícia com tanta ênfase, vou prestar mais atenção às notícias ditas em voz baixa. Talvez ali estejam presentes grandes e alarmantes verdades!

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